Clique aqui para ir para a página inicial
 

Pular Links de Navegação
»
Home
Contato
Calculadoras
Consultoria
Conteúdo
Cotações
Perfil/Testes
Serviços
Parceiros
Mapa site
[HyperLink1]
Cadastrar
 
    
Assuntos

Total de artigos: 11132
    

 

 

Carreira / Emprego - É difícil dizer o que queremos  

Data: 11/12/2008

 
 

Para entender melhor o modo como o brasileiro conduz sua carreira, a professora Tania Casado, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Instituto de Administração (FIA), buscou as respostas nas raízes da nossa cultura: a colonização portuguesa.

Tania é a representante brasileira do The University Fellows International Research Consortium, grupo de pesquisadores e professores que já entrevistou presencialmente executivos de 42 países para formar sua base de dados. 'Estudei Portugal, Brasil e Macau (colonização portuguesa), e Espanha, Argentina e México. Quando o assunto é comportamento dos executivos, os países colonizados apresentam resultados semelhantes aos de seu colonizador', diz. Será que narciso vai se incomodar com aquilo que é espelho? Confira a seguir a entrevista que Tania deu à VOCÊ S/A.

Quanto a herança da colonização influencia na formação dos valores da vida corporativa?

Muito. Na pesquisa levantamos a hipótese de que existe uma convergência das estratégias de ascensão profissional mais utilizadas em países de mesma colonização, porque essas estratégias estão ligadas aos valores sociais, que são influenciados pela herança cultural deixada em cada país, independentemente do desempenho econômico das nações pesquisadas.

Então, dependendo do país colonizador os executivos terão perfis diferentes na construção da carreira?

As diferenças aparecem principalmente na hora de partir para a ação na busca da ascensão profissional. Os executivos de países de cultura anglogermânica e europeus de cultura latina adotam uma estratégia organizacionalmente benéfica. Esse perfil gosta de obedecer regras porque visa não só à própria carreira, mas também quer entregar resultados para a empresa. O trabalho árduo, a participação em programas de voluntariado empresarial, o desenvolvimento de boas relações de trabalho, o bom desempenho numa tarefa executada e a disponibilidade para realizar horas extras são exemplos desse tipo de estratégia.

Esses latinos somos nós?

Não. Somos latinos colonizados por Portugal e Espanha, mas não estamos na Europa. E é aí que entram dois outros perfis: o autoindulgente e o destrutivo. As estratégias autoindulgentes são usadas por executivos de países de colonização portuguesa como Brasil e Macau. São os comportamentos favoráveis ao próprio executivo — é o pensamento do 'eu primeiro', da esquiva às incertezas, de baixo comprometimento com a igualdade e de pouca preocupação com a lealdade. Se isso é bom ou ruim à organização, vai depender de como interpretam a situação.

Como nós, brasileiros, fazemos isso no dia-a-dia corporativo?

Reforçando as idéias de pessoas poderosas, atribuindo culpa aos demais por erros próprios, levando crédito por trabalhos alheios, controlando informações.

Isso é bem destrutivo, sim?

Não, porque há certa flexibilidade. Para o executivo autoindulgente as coisas podem ser relativas, dependendo de sua conveniência. Já as estratégias destrutivas estão relacionadas a comportamentos extremamente voltados à própria pessoa e muitas vezes prejudicam os outros e a organização. Por exemplo: falsificar dados no currículo, roubar documentos, idéias ou projetos e usar equipamentos de escuta. Em algumas sociedades, essas estratégias podem até ser vistas como comportamentos ilegais.

Em que países os executivos adotam mais as estratégias destrutivas?

No Leste Europeu, na América espanhola e na Espanha. Isso não quer dizer que os profissionais de lá sejam pessoas destrutivas. É que, na hora de ir atrás de ascender na carreira, eles podem chegar a adotar esses meios mais nocivos para conseguir seus objetivos.

Em que os países de colonização portuguesa e espanhola se distinguem?

As duas colonizações foram de exploração, mas a Espanha conquistou a América de forma mais assertiva, agressiva, militar. Os heróis do México e Argentina, países que eu estudei, são militares e ainda hoje estão ligados à guerra.

COMPETIR NUM MERCADO GLOBAL IMPLICA ASSUMIR NOSSA RESPONSABILIDADE NO TRABALHO

No Brasil houve alguma diferença?

Embora Portugal também tenha feito uma colonização de exploração, ele usou meios

indiretos, como o comércio e outras estratégias que faziam uso muito mais da flexibilidade do que do confronto direto. A Coroa Portuguesa também fincou raízes aqui com a ajuda do clero. Por isso somos assim: um povo mais emocional, que trabalha de forma coletivista, própria do perfil autoindulgente. Então, tentamos alcançar nossos objetivos de forma indireta, pouco assertiva, porque para nós é difícil dizer diretamente o que queremos. Precisamos, sem dúvida, ser mais assertivos.

Isso pode atrapalhar a carreira?

Hoje, para a carreira, é preciso ser mais focado, ter assertividade, ir direto ao ponto. E ser assim está fora dos nossos valores culturais. No ambiente corporativo isso se traduz em 'é preciso se preparar melhor, assumir mais as responsabilidades, os papéis que têm de ser desempenhados'. Esse tão famoso jeitinho brasileiro, o 'deixa comigo, na hora tudo dá certo, a gente dá um jeito', acaba dando errado e prejudicando a atuação profissional. Mas o executivo precisa ter claro que ele planta esse tipo de situação. A gente é isso, sempre acha que na hora H vai resolver as coisas. É o jeitinho que nunca dá jeito em nada.

Ser autoindulgente dificulta mudar de carreira, montar um plano B, até mesmo ter determinados tipos de profissão?

Não. Vendo pelo lado positivo, esse perfil tem flexibilidade, transita bem pelas várias profissões e áreas. Na realidade a questão é: se fosse mais assertivo, alcançaria mais rapidamente seus objetivos e conseguiria mais resultados no trabalho e na carreira. A flexibilidade faz parte do jeitinho brasileiro de ser, que tem um lado bom para a carreira. É o sujeito que sabe contornar, que está sempre 'na parada'.Mas às vezes, como não vai direto ao ponto, perde o timming que as coisas têm para acontecer.

Além da autoindulgência, quais outros obstáculos fazem com que o brasileiro se enrosque na hora de planejar e gerenciar bem a carreira?

Um deles é a dificuldade com a visão de longo prazo — outra característica cultural nossa.Como é que o profissional pode se planejar se está trabalhando no imediatismo? Os estudos do professor Geert Hofstede, que analisou diferenças culturais em mais de 40 países, já mostraram nossa visão de curto prazo. Basta olhar para o cenário nacional. Essas características são replicadas no ambiente organizacional e na visão de nossa carreira. Como vamos competir num mundo globalizado se não reconhecermos essas nossas características e as armadilhas delas derivadas? Se não vemos o futuro?

Uma das características do perfil autoindulgente é não assumir responsabilidades. Isso também prejudica a carreira...

O problema da autoindulgência fica mais fácil de entender quando se faz uma analogia entre carreira e tecnologia, como o wireless. Hoje, a carreira está balizada em três pontos: convergência, mobilidade e flexibilidade. O profissional não pode estar preso a nada, mas tem de estar conectado a tudo. Como é que ele vai construir uma carreira, transitar pelos departamentos, falar com quem decide se não assume para si a responsabilidade pela própria vida profissional?

Quando você fala em conexão, a primeira coisa que vem à mente é networking. Por que o brasileiro tem resistência a criar, manter e usar uma rede de relacionamentos?

A construção das redes de relacionamentos é um passo muito importante para pensar e construir a carreira. E o que é conexão? São as redes. Eu preciso estar sempre conectado, em dia com as conexões e elas precisam ser úteis para mim da mesma forma que eu preciso ser útil para elas. Não se trata de relacionamento afetivo, nem é uma rede de amigos, e às vezes a gente se relaciona como sendo uma rede de amizade pessoal. Por isso, o brasileiro vê o networking com preconceito, por pensar que essa é uma abordagem utilitarista das pessoas. Por isso, se precisar acionar sua rede, vai fazer uma abordagem utilitarista, mas raramente de forma clara, direta e objetiva. Ele vai rodear as pessoas e tentar atingir seus objetivos rodeando, pelos meandros e pelos desvios.

Existe uma maneira diferente de encarar o networking?

Se você pensar que dará uma contrapartida em algum momento, já vai encarar o networking de forma diferente. Acaba se tornando uma maneira menos autoindulgente, mais focada, de assumir a carreira. Isso porque você não vai abordar as pessoas como um 'coitadinho'. Não vai colocar a culpa no mercado, nem no chefe por estar ali no papel de pedinte para se recolocar ou encontrar um emprego melhor. Ao contrário, você vai entender que networking é uma via de mão dupla: um dia você aciona, num outro é acionado, sem se sentir um oportunista.

Dá para mudar de perfil?

Mudar uma tradição de mais de 500 anos como apareceu nos resultados da pesquisa de nosso grupo não é de uma hora para outra. O importante, vital para o nosso futuro profissional e do nosso país, é saber que temos essas características e que precisamos desenvolver comportamentos de aprimoramento de nossas ações. Ou seja, usar a parte boa da nossa flexibilidade e cuidar para que a falta de assertividade, de assumir efetivamente responsabilidades e nossa visão de curto prazo não prejudiquem nossos objetivos.



 
Referência: curriculum.com.br
Autor: Rosana Tanus - Você S.A
Aprenda mais !!!
Abaixo colocamos mais algumas dicas :