O que determina o sucesso ou o fracasso de um projeto? E de uma empresa? É
válido admitir a existência de influências externas, como as crises em âmbito
econômico, as turbulências políticas, a entrada de um novo player no mercado ou
a inflação. Porém, é preciso se lembrar da variável mais importante e também da
mais esquecida: o ser humano.
As pessoas podem levar uma organização ao sucesso, mas também têm o poder de
levá-la ao fracasso. Segundo a gerente de Desenvolvimento Organizacional da
Luandre, Flávia Garbo, o ser humano possui a "incrível habilidade de derrubar
uma ideia, por mais maravilhosa que esta seja". Isso sem falar da capacidade de
fazer algo parecer o que não é e de cometer erros por livre e espontânea
vontade.
"Nunca subestime a criatividade das pessoas para boicotar métodos e processos,
principalmente dos brasileiros, que são muito habilidosos em dar um jeitinho em
tudo", acrescenta a especialista em Recursos Humanos.
Os erros mais comuns
Um dos equívocos mais comuns, que pode levar à perda de clientes, à ruína de um
projeto ou à estagnação da empresa, é o boicote de gestores de todos os níveis a
funcionários considerados talentosos. Por insegurança e medo de perder seu
posto, é comum gestores não conseguirem fazer o próprio trabalho e entregar
resultados que surpreendam diretoria e stakeholders (públicos da empresa).
Isso acontece porque o profissional fica o tempo todo preocupado em controlar,
centralizar, olhar tudo, saber de tudo. "Hoje, as pessoas deixam a ética de lado
em nome da sobrevivência. No lugar de delegar e treinar, o gestor inseguro se
perde em detalhes, porque sua prioridade não é o sucesso da empresa, mas, sim,
controlar tudo, mesmo quando ele sabe que, na equipe, há pessoas capacitadas e
competentes. Tudo tem de passar pela mão dele. O resultado é que ninguém
cresce".
Subordinação já saiu de moda
A hierarquização - termo em voga no momento, hoje já relacionado a empresas
ultrapassadas - também prejudica quando o assunto é comunicação. "Criou-se uma
crença no Brasil de que informação é poder. Há gestores que fazem questão de não
explicar o todo aos membros da equipe. Sua tática é fragmentar informações, de
maneira que ninguém enxergue o todo ou conheça os objetivos maiores da empresa.
Mas os questionadores, que querem entender, acabam não se engajando".
Para evitar esse tipo de boicote à empresa, muitas organizações de grande porte
adotam recursos como jornais informativos internos e intranet, diz Flávia.
A mania de copiar e colar
Outra forma que o ser humano encontrou de boicotar projetos diz respeito ao ato
de copiar e colar. Mediante a pressão pela rapidez, muitos profissionais, na
hora de arquitetar uma apresentação ou de elaborar um projeto, buscam o que
querem na internet e, sem muito pensar, colam.
"Vejo pessoas copiando formulários inteiros da internet, mudando apenas o logo
da empresa. Mas esse ato implica riscos. Às vezes, as pessoas perdem a noção.
Por exemplo, há quem trabalhe em empresas nacionais e copie projetos de
multinacionais. Mas são organizações com perfis diferentes. Geralmente,
multinacionais são mais burocráticas, formais e apresentam maior meritocracia. E
o que funcionou para determinada empresa, em determinado contexto, pode não
funcionar em outro lugar", afirma Flávia.
O ideal é adaptar as informações à realidade de cada empresa, de cada situação.
Não dá para copiar o trabalho motivacional de alguma das companhias
classificadas entre as melhores para se trabalhar, pura e simplesmente. Já no
caso de uma apresentação ou treinamento, no lugar de copiar e colar informações
ou apresentações inteiras, estude o tema, conheça-o. Não fique limitado ao que
encontrou. Até porque as pessoas farão perguntas.
Pessoas que não pensam fora da caixa
Crenças fortes podem ser limitantes. Isso porque a sociedade muda em uma
velocidade ímpar, assim como as demandas dos clientes e a concorrência. Pensar
de uma mesma forma, durante anos a fio, pode levar uma empresa à falência. É
preciso acompanhar as mudanças! Por exemplo, há gestores que acreditam que só há
um modo de trabalhar e, por isso, relutam em alterar processos, produtos ou
serviços.
"São pessoas que não leem jornal e não analisam o que os concorrentes estão
fazendo. Como resultado, nunca vão além", diz Flávia. Esses profissionais não
notam sua dificuldade em pensar fora da caixa e, de forma inconsciente, boicotam
a empresa. "As pessoas precisam rever suas crenças, estudar e analisar o modo
como pensam o tempo todo", finaliza a gerente de Desenvolvimento Organizacional
da Luandre, Flávia Garbo.