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Carreira / Emprego - Liderança no futuro 

Data: 18/12/2008

 
 

Sensibilidade como Qualidade do Líder

Poucos instantes antes de receber o convite para escrever esse artigo, eu navegava na internet quando deparei-me com uma notícia de um jornal londrino, a respeito de uma pesquisa sobre a cultura de consumo atual de crianças com faixa etária entre um e três anos, manifestando comportamentos típicos da adolescência! Essas crianças inglesas possuem televisão e aparelhos de som (CD) em seus próprios quartos e estão exigindo roupas de marcas famosas (griffes)!

Lembrei-me de um grande amigo, quando dizia acreditar que nossa geração estava presenciando o parto ou o nascimento de uma super-humanidade – considere o fato de que as gerações que hoje detêm ou assumem a liderança nas organizações tiveram como modelos, na infância e adolescência, os super-heróis (seres que voavam, comunicavam-se telepaticamente, moviam objetos com a força do pensamento, possuíam visão de raios X, etc). Mesmo que acreditemos que isso são apenas produtos da imaginação, lembre-se que tudo o que vemos e fazemos atualmente, foram apenas fantasias na mente de nossos ancestrais – até mesmo passíveis de punição em algumas épocas da nossa história! Lembre-se do telefone, avião, microondas, computador pessoal, a conquista da Lua, etc.

Refletindo sobre esse cenário, fico me perguntando: o que é liderança? Ou talvez, quais serão as condições de sobrevivência das organizações e as características do que chamamos de liderança nesse futuro que já iniciou? Sentindo-me meio órfão de bases conceituais ou paradigmas que me permitam perscrutar esse futuro incerto, tento organizar o caos das evidências e notícias que me impactam a cada instante, referenciando-me em minhas próprias reflexões. Como estudioso do aprendizado e do comportamento e apaixonado pelo conhecimento subjetivo, as únicas idéias que me sobrevêm são, na verdade, duas perguntas:

1) Como, numa época remota de nosso processo evolutivo, os organismos unicelulares “resolveram” ou “decidiram” associar-se para sobreviver? Será que houve uma liderança além da consciência coletiva nesse processo? Quem sabe tenham “percebido” que se estivessem juntos, embora tivessem que dividir o alimento, ora abundante ora escasso, estariam mais bem protegidos de serem devorados por organismos maiores! Certamente essas várias associações sucessivas ao longo da jornada evolutiva, após várias crises e diferentes estágios, tornaram-se a base para a manifestação da inteligência e sabedoria humanas que nos permitem fazer tais divagações!

2) Observando o organismo humano, a manifestação da consciência em seus vários níveis e dos processos inconscientes, como podemos saber quem é o líder?

Penso que, muitas vezes, uma pergunta pode valer mais do que uma resposta – pelo menos é isso o que nos ensina a história da ciência! Assim, mesmo sem conhecer em profundidade as organizações, quero acreditar que a Inteligência que garantiu a sobrevivência dos seres vivos ao longo de tantas eras, cujos segredos e compreensão estão sendo paulatinamente desvendados pela ciência e pela consciência humanas, poderá nos apontar possíveis soluções para compreendermos como nós, seres humanos, que somos células de “seres vivos” ou “organismos” maiores chamados famílias, empresas, associações, comunidades, países, continentes ou planeta, estaremos mais aptos a sobreviver.

Munido de alguns referenciais pertinentes ao pensamento sistêmico, a primeira idéia que pode nos nortear é que soluções de curto prazo podem ser problemas de longo prazo, e vice-versa (muitos problemas são, na verdade, soluções!). Sendo bastante simpático ao modelo das Organizações de Aprendizagem de Peter Senge [cujos pilares de sustentação são a priori: domínio pessoal (desenvolvimento pessoal), modelos mentais, objetivo comum, aprendizado em grupo e raciocínio sistêmico] e a observação do equilíbrio dos sistemas vivos (juntamente com os modelos da Natureza que nos permitem identificar padrões que controlam eventos), uma das coisas que mais me fascina é notar a multiplicidade de fatores inter-relacionados que condicionam o processo de escolha. Isto é, quando você deseja tomar uma decisão difícil e não consegue, quais são as forças que estão em jogo? Ainda indagando sobre os impulsos naturais, de onde vem a ordem que o faz acordar todas as manhãs?
 
Assim, analisando a conjugação de interesses e motivações que impelem nossas ações e decisões, seja na dimensão individual, familiar, empresarial, associativa, comunitária, nacional, continental ou planetária, mesmo identificando os seus condicionamentos, leis, critérios e valores diferentes, podemos notar que as diferentes forças políticas interagem até que sejam definidas as ações. Além disso, quanto mais “camadas” estejam em harmonia ou indivíduos sinergicamente atuantes em um empreendimento qualquer, seja ele liderado ou não, maior o poder de mobilização e realização é colocado em ação.

Dessa forma, admitindo uma estrutura fractal(*) que relacione todas essas dimensões, talvez possamos tentar imaginar se as mesmas regras poderiam caber nesses diferentes níveis. Isto é, será que o mecanismo que condiciona as decisões e ações em níveis mais complexos seriam os mesmo que os condicionam e níveis mais simples? Será que a tomada de decisão em grupos de indivíduos é semelhante ao processo de tomada de decisão dentro eu um único indivíduo no relacionamento de suas sub-identidades? Será que, assim como as células que compõem os nossos tecidos, órgãos, etc, nós também somos células menores de organismos maiores? Será que aquilo que está em cima é “igual” àquilo que está embaixo? Será que os átomos são semelhantes aos sistemas planetários?

Um dos mais modernos modelos de compreensão da mente humana admite que o nosso relacionamento interior (aquele relacionamento que temos para com cada um de nós mesmos, com nossas fantasias, motivações, conflitos e sentimentos) é apenas um reflexo de nosso relacionamento com os outros, e vice-versa – que o nosso mundo da experiência subjetiva é semelhante ao de nossa experiência objetiva. Então, será que todas essas dimensões em que existimos (individual, familiar, empresarial, associativa, comunitária, nacional, continental ou planetária) seriam somente diferentes níveis fractais de uma consciência ainda mais ampla?

Essas idéias, embora sejam apenas modelos ou construções do intelecto, me ajudaram a construir a tabela abaixo abstraída da observação de agrupamentos de graus de complexidade crescentes conforme abaixo, apresentados de forma simplificada e ilustrativa:

Indivíduo  grupo superior  Indivíduo  grupo superior 

Átomos  moléculas   tecidos   órgãos
Moléculas  proteínas   órgãos   seres vivos/homem
Proteínas  genes    homem  família/organizações
Genes   células    família/orgções  comunidades/mercados
Células  tecidos    comunidês/mercados civilização 

Bem, você pode estar pensando agora, depois de toda essa “viagem”, o que o conhecimento atual sobre comportamento humano poderia contribuir para minha compreensão de como serão os novos paradigmas sobre liderança? Primeiramente, gostaria de considerar que possuímos uma memória responsável tanto por aquilo que denominamos aprendizado, quanto aquilo que chamamos de condicionamentos (paradigmas, hábitos e vícios, “miopia conceitual”, etc), ou seja, que possui aspectos positivos e negativos. Em segundo lugar, que cada ação efetiva e cada decisão, tem lugar apenas na medida em que, democraticamente ou autoritariamente, cada indivíduo mobiliza dentro de si seus interesses ou necessidades pessoais, seu organismo como um todo, seus sentimentos e sensações, sua percepção e suas memórias, seus critérios e seus valores (como na doutrina de Maslow). Ou seja, existem várias dimensões diferentes a serem levadas em conta (essa analogia serve, da mesma forma, para famílias, empresas, associações, comunidades, países, continentes ou planeta.

Essa reflexão matricial serve para nos induzir a encontrar uma compreensão mais ampla e sistêmica dos papéis e atribuições das futuras lideranças dessa super-humanidade, já intuída pelos mais arrojados gestores e empreendedores das organizações, tais como os “cases” de Jan Carlzon (A Hora da Verdade) ou Ricardo Semler (Virando a Própria Mesa). Não obstante, tais modelos de gestão podem parecer um retorno às nossas origens, já que algumas culturas indígenas bastante anteriores ao mundo chamado de civilizado, propunham que, onde houver dois ou mais indivíduos reunidos em torno de um objetivo comum, ali se conforma uma mente coletiva que passa a se expressar através de cada um de seus indivíduos. Essa mente coletiva percebida pelos índios poderia muito bem ser chamada de sinergia (linguagem empresarial), master mind (tão utilizada na criação publicitária) ou mesmo de consciência.
 
Para finalizar, então, se desejarmos aprender mais profundamente sobre as possibilidades, recursos ou características dos principais líderes da Era da Intuição (admite-se ser uma das possíveis sucessoras da Era da Informação), talvez algumas das mais significativas soluções ou respostas estejam dentro de nós mesmos! Basta apenas explorarmos com cuidado o universo de nossas motivações, sub-identidades, crenças e valores, processos decisórios, para compreendermos que tanto a tirania quanto a democracia são apenas estágios primitivos na longa jornada de alinhamento de nossas forças mais íntimas.

Algumas das principais evidências disso são uma atenção cada vez maior dada ao auto-conhecimento, ao conhecimento da natureza humana, às inteligências emocional, interpessoal, intrapessoal, relacional, à sensibilidade, ao discernimento e à intuição. Pois as principais lideranças já conhecem, possuem, estudaram e esgotaram todos os conhecimentos na área técnica, MBA’s, etc, e todas essas certificações, como bem sabemos, não garantem a competência, freqüentemente ofuscando as mais importantes qualidades buscadas em líderes de vanguarda, isto é, pense nos líderes mais carismáticos que você conhece, será que as suas melhores qualidades advêm de tais certificações? Quantos deles, muitas vezes, que nem sequer cursaram faculdades?

São essas competências humanas, além das competências técnicas, algumas das principais qualidades que diferenciam um verdadeiro líder. Talvez porque sejam essas características exatamente aquelas que tornam o líder mais apto a perceber, sentir, identificar, manifestar e expressar os desígnios das mentes coletivas (equipes) às quais pertencem (lideram)!

Por fim, a flexibilidade (segundo a Cibernética), a expansão de consciência (segundo alguns dos modernos pensadores sobre a espiritualidade das organizações – nenhuma relação com religião ou instituições) a sensibilidade e a percepção (segundo minhas reflexões) são importantes habilidades que podem permitir a expressão mais precisa dos movimentos de graus de consciência mais refinados, exatamente conforme os verdadeiros atributos do arquétipo de um rei, capaz de acolher e sintetizar os interesses de todos os seus súditos e organizá-los e orientá-los à consecução de seu destino coletivo, conforme a expressão dos próprios membros de tais comunidades; o verdadeiro rei é aquele cujos súditos dizem: “Nós fizemos isso!”.



 
Referência: gestaodecarreira.com.br
Autor: Walther Hermann
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