Decidido a começar a investir, você foi atrás de informações sobre as 
diferentes aplicações, fez comparações, simulações sobre o seu perfil de 
investidor e está lendo o noticiário econômico. Agora, se sente totalmente 
preparado para aplicar o seu dinheiro, certo? 
Nem tanto. Segundo explica a doutora em psicologia econômica Vera Rita de 
Mello Ferreira, no livro A Cabeça do Investidor, além de alimentar o lado 
racional com informações técnicas, é preciso equilibrá-lo com o lado emocional, 
já que “sempre somos guiados por um forte motivador de natureza emocional” em 
todos os aspectos de nossa vida, incluindo investimentos. 
E são as emoções que interferem na capacidade de percepção, distorcendo até o 
mais técnico dos relatórios, por exemplo, sem que às vezes a pessoa se dê conta 
disso, pois permanecem no inconsciente. É como se fossem um “semáforo”, diz Vera 
Rita: “o que me agrada, sobre mim ou sobre o que me cerca, eu permito acesso à 
consciência, acredito ser real ou provável de acontecer, e deixo em paz; mas se 
ameaça me trazer desconforto, dor, frustração, (...)faço de conta que não são 
meus, nem reais ou prováveis”. 
Cinco perfis de comportamento
Mas, como não é possível se desligar das emoções, Vera Rita recomenda que o 
investidor sempre procure o autoconhecimento, para aprender a lidar com elas. 
Para ajudar nessa tarefa, ela traça em seu livro cinco perfis básicos de 
investidor, do mais emocional ao que sabe integrar razão e emoção. Veja algumas 
características de cada um deles: 
Predominantemente pressionado por emoções primitivas: dificuldade para 
aceitar a realidade e tentar modificar o que for preciso; impulsivo; reage com 
intensidade, ou mesmo com violência, muitas vezes desproporcionalmente; deixa-se 
influenciar facilmente; é muito parcial nas suas avaliações; ansioso; otimista 
ou pessimista demais; pode ser arrogante e acreditar-se onipotente.
Frequentemente pressionado por emoções primitivas: alguém que já 
consegue, às vezes, refletir antes de sair desembestado...; já entrou em fria 
por se comportar desse modo mais dominado pelas emoções primitivas, viu que não 
é bom, mas cada vez que isso acontece encontra justificativas, sem se deter de 
fato para pensar no assunto.
Malabarista: possivelmente o tipo mais comum, que às vezes usa bem a 
cabeça, em outras se atrapalha feio, podendo variar conforme o tipo de situação; 
já viu que é legal, útil para si mesmo funcionar de outro jeito, mais 
equilibrado, e tenta fazer isso quando se lembra, mas nem assim tem sucesso 
sempre.
Mais consciente das próprias limitações: está no “bom caminho”, já 
consegue se flagrar em muitos momentos, parou para pensar, mas nem sempre dá 
conta de administrar as diferentes pressões, internas e externas, por isso acaba 
metendo os pés pelas mãos em alguns momentos; mas está mais firme no propósito 
de mudar e se tornar uma pessoa mais madura e equilibrada.
Racional, ou seja, equilibrado integrando bem emoção e razão: esse é o 
tipo mais raro, que consegue lidar melhor com seus sentimentos disparados por 
experiências de frustração – e ainda assim seguir pensando; sabe que não é 
infalível, por isso, não se sente superior aos outros; é capaz de compaixão e de 
compor com parceiros, em situações afetivas, financeiras, profissionais e 
outras; suporta ficar triste, sem ficar demasiado aflito; tem confiança em si e 
na vida.
Armadilhas
A autora dedica grande parte da obra a mostrar os principais erros que o 
investidor pode cometer ao se deixar levar apenas por suas emoções. Um deles é 
ter apenas uma visão parcial da situação, em vez de enxergar o contexto inteiro, 
inclusive as oscilações inevitáveis do mercado. “Ou eu vejo que está tudo 
maravilhoso, portanto, não tem risco nenhum e eu não vou tomar nenhuma 
providência pra me precaver ou eu acho que está tudo perdido, não tem saída 
nenhuma, então, vou entrar no desespero e não consigo enxergar nenhuma 
estratégia para reverter a situação”, explicou Vera Rita, em entrevista à 
InfoMoney TV. 
O lado emocional também pode prejudicar a capacidade de o investidor avaliar 
o preço das coisas, incluindo aí ativos financeiros. “Uma série de coisas pode 
determinar o valor, mas a mais importante é o que na psicologia econômica se 
chama âncora, a partir de onde a pessoa sai para fazer suas estimativas de 
valor. Então, se ela ouve falar que tem um apartamento por R$ 600 mil, isso fica 
na cabeça e, mesmo que ela não se dê conta, começa a fazer todos os cálculos em 
cima deste valor, deste ponto de referência. Isso porque nossa cabeça não 
consegue fazer avaliações em cima de valores absolutos”, comenta a autora. 
O investidor também pode cometer o engano de achar que é capaz de antecipar 
movimentos do mercado, quando, na verdade, está confundindo essas previsões com 
suas expectativas, sejam elas positivas, sejam negativas. “Se todo mundo fosse 
atrás de uma previsão no mercado financeiro, então, todo mundo iria ganhar 
porque todo mundo iria comprar, então, iria subir demais, ou todo mundo iria 
vender, então, iria cair demais. Os ganhos e as perdas são decorrentes de 
assimetrias de previsões, bola de cristal ninguém tem”, diz Vera Rita, 
recomendando que o investidor troque ideia com outras pessoas, para conferir 
como estão as suas expectativas. 
Uma outra recomendação, não só para este caso, mas também para quem quer 
evitar decisões erradas por conta do lado emocional, é fazer uma espécie de 
diário e sempre consultá-lo. “A pessoa deve anotar, seja por gravador, seja por 
escrito, tudo o que cerca o momento em que ela está avaliando os dados para daí 
fazer a escolha. Depois volta, retoma, e vai talvez aprendendo com essa 
experiência”, explica a doutora em psicologia econômica.