Imagine a seguinte história: Marta foi à loja de roupas mais concorrida
do shopping de sua cidade e comprou uma peça de roupa por R$ 50. Eduarda, dez
minutos depois, entrou na mesma loja e fez a compra de uma peça de roupa
idêntica à comprada por Marta, também por R$ 50. Uma não conhece a outra e
ambas fizeram a mesma compra, da mesma peça, pelo mesmo valor, na mesma loja e
quase que ao mesmo tempo. Pergunta-se: qual dessas duas compras valeu mais a
pena? Onde os R$ 50 foram mais bem gastos? É impossível saber, somente com esses
dados.
Vamos então acrescentar mais algumas informações para responder a essa
pergunta. Horas antes, Marta havia acabado de brigar com uma amiga. Foi uma
discussão hostil, no ambiente de trabalho, que deixou Marta desgastada
psicologicamente. Então, ela resolveu ir ao shopping – já que passa em frente
dele todo dia, no percurso casa-trabalho-casa – a fim de comprar alguma coisa
para “espairecer” e tentar amenizar o excessivo consumo de energia emocional
existente em decorrência da briga.
Já Eduarda não. Horas antes, Eduarda havia recebido a ótima notícia de que
havia sido promovida no emprego em que trabalha. Curiosamente, Eduarda trabalha
numa empresa cuja sede fica do outro lado da rua onde Marta trabalha. Feliz com
a notícia, resultado de meses de esforços e dedicação, ela resolveu celebrar
essa conquista e, tendo em vista que também está disciplinada financeiramente,
resolveu se dar esse pequeno luxo, essa pequena recompensa.
Onde essa peça de roupa tende a durar mais e trazer mais satisfação: no
guarda-roupa de Marta, a triste, ou no guarda-roupa de Eduarda, a alegre? Qual
compra tem mais chances de ser duradoura? Para bom entendedor, meia palavra
basta.
Consumo consciente, vida plena
No dia-a-dia, são diversas as situações em que nos comportamos ora como Marta,
ora como Eduarda. Nossas decisões de consumo, muitas vezes, têm comportamentos
muito mais parecidos com o de Marta do que com o de Eduarda. Traduzindo: quem
tem uma vida financeira enrolada e cheia de dívidas para quitar é porque, dentre
outros motivos, gasta mais do que ganha. E, geralmente, faz isso porque faz
compras para compensar necessidades emocionais, espirituais e psicológicas.
Engraçado como tentamos compensar necessidades espirituais com bens físicos,
materiais. E, com isso, não só comprometemos nossa vida financeira, como também
acabamos não valorizando aquilo que trazemos para casa em sacolas recheadas de
compras no shopping. Uma compra como prêmio, como recompensa, evidentemente, tem
muito mais chances de “durar mais”, não só porque ela é feita num momento
emocional positivo, isto é, de conquista, como também porque é resultado de um
prévio esforço anterior, seja ele uma conquista profissional ou pessoal.
Esse deve ser o prêmio por boas escolhas financeiras: dinheiro é útil na
medida em que é gasto. Nada mais justo do que gastá-lo como forma de recompensar
algum desafio do qual nos saímos vencedores. Permitir-se a prática de “pequenos
luxos” não tem nada a ver com levar uma vida de ostentação ou da incorporação do
slogan “eu mereço”, mas sim com a idéia de aproveitar aquilo para o qual você
tanto se esforçou e lutou para conseguir. Uma compra como recompensa deve ser a
conseqüência do merecimento e não a sua causa.
Razão versus Emoção
As compras que compensam frustrações emocionais não duram muito tempo. São más
compras, principalmente porque são realizadas no momento em que a pessoa não é
levada a agir com razão, mas sim com emoção – e emoções negativas, diga-se de
passagem, como raiva, stress, sentimento de derrota etc.
Já as compras que recompensam vitórias e conquistas duram muito mais tempo.
São ótimas compras porque são realizadas no momento em que a pessoa é levada a
agir não com emoção, mas sim com razão. Há uma escolha racional
decorrente de uma emoção positiva, e isso faz toda a diferença na hora de
valorizar as boas compras.
Muito se diz que vivemos numa constante tensão entre compras de
“necessidades” e compras de “desejos”, devendo-se priorizar a compra de bens que
representam “necessidades”. Concordo com essa proposição, já que os fundamentos
da bancarrota financeira passam necessariamente pela compra desequilibrada de
supérfluos. No entanto, creio existir uma exceção a essa regra – e que na
verdade acaba confirmando a regra: são os momentos em que as compras representam
“recompensas”.
Ter tirado nota 10 em uma prova é ou não é motivo suficiente para abdicar –
temporariamente, claro – daquela dieta rigorosa e se dar ao luxo de comer um
pedaço suculento de torta “floresta alemã” daquela padaria da esquina? Eu acho
que é motivo, sim! Não se trata de uma necessidade, mas de um desejo. Ora,
quando se percebe a conquista de um objetivo na vida, seja ele qual for, nada
mais justo do que abrir uma exceção e se dar essa recompensa de presente.
Você fez economia durante 4 meses, quitou suas dívidas, saiu dos
financiamentos e zerou os problemas com os credores. Também já está seguindo um
plano de independência financeira e fazendo investimentos com consciência. Que
tal fazer uma “loucurinha” e jantar sábado à noite naquele restaurante
ultra-super-hiper badalado e escolher um prato bem bacana? Se for para celebrar
as conquistas do reequilíbrio financeiro, vá em frente.
Afinal, as recompensas funcionam como lembretes de que você é capaz de
superar desafios e enfrentar etapas ainda mais elevadas. Elas também são meios
bastante eficazes de elevar sua auto-estima, renovar sua energia para as
próximas missões e preencher sua vida com memórias que valerão a pena serem
curtidas. Porque se tem alguma coisa na vida cujo significado não se transforma
com o decorrer do tempo, essa coisa se chama prêmio. Abandone o hábito das
compras para compensar algo e transforme-as em compras para recompensar algo. E
viva uma vida muito melhor!